segunda-feira, 14 de maio de 2007

Segunda Feira - 14/5/07

Depois dum curto intervalo provocado por fissuras no multiverso, voltamos para dissertar, ângulo por ângulo, sobre o programa mais fiseterídeo da televisão portuguesa.

O episódio começa com Rute e Leonor a serem fotografadas pelo Cee-Lo Green dos Gnarls Barkley. Mick “Manel” Hucknall demonstra as suas habilidades de skater, mas foge quando aparecem Angelina e os amigos. O trio decide portanto ir para a casa de Angelina e “fumar umas ganzas”. Plus ça change.

Rui, depois de receber uma medalha dos bombeiros, aparece no Bar Azul. “Sabem o que isto merece?” pergunta Lourenço, entusiástico. Uma festa? Uma party? Uma rave? Não! “Uma comemoração!” explica uma das gémeas. Filipa prossegue no seu ego trip, e recusa fazer roupas para as amigas – claramente, deixou a fama subir à sua cabeça e já não se lembra das suas origens como modesta artesã de aldeia. Enquanto isto, Tânia e Gonçalo discutem o que fazer com os espólios do “con job” que conseguiram dar a Filipa. Na sala dos professores, entra-se mais uma vez no sempre popular jogo “chateiem o Paulo”. Este tem que explicar através da escrita que ficou sem voz por causa dum susto. Toda a gente concorda que deve ter sido “um valente susto”, e a professora de desporto representa em mímica o momento, para deleite geral dos docentes. É este o nível intelectual dos professores moranguitos.

Outra vez no Bar Azul, Adriana e Lucas discutem a possibilidade de abrir um “espaço cultural” – mau, parece que o estabelecimento vai perder todo o seu charme rasca e tornar-se em apenas mais um daqueles lugares pretensiosos à Rua Miguel Bombarda e tal. Rute, entusiasmada com o facto de lhe terem tirado fotografias, planeia comprar logo no dia seguinte as revistas do jet set para ver se apareceu em alguma. Esta ambição desmesurada é alvo de chacota geral – pois claro, os exemplos da Filipa e dos 4 Taste mostram que são precisos pelo menos cinco episódios para uma pessoa chegar à fama, isto não acontece dum dia para outro! Marina decide sair de casa, após ter finalmente notado que vive com dois sóciopatas. A atmosfera é melancólica – será que este duro golpe irá fazer com que Paulo e Zé Maria finalmente se entendam, lançando assim uma narrativa de redenção e uma metáfora para a própria existência humana? Seria seca.

Júlio volta à casa Salgado com a habitual dose de uppers na cabeça. Sentando-se na poltrona, descobre a scarlet letter - os seus filhos têm faltado às aulas! Na Blackout, Sofia consegue arrancar mais alguma informação de Rodrigo, que explica que o seu grupo de pirataria tem “armazéns distribuídos pelo país” (aposto que não têm nada nos Açores, é sempre a mesma discriminação, etc.) e que o chefe é “uma pessoa ocupada, anda sempre a viajar. Considera-lo uma sombra”. Temos portanto alguns suspeitos principais:




Ravina, permanentemente confuso acerca das funções do pessoal do colégio, tenta destacar Lima para tratar do lixo. Este vai fazer queixa à Vitória, o que por sua vez leva a mais um enfadonho tango de ameaças e suspeitas entre os dois. Na casa de Angelina, os três pequenos stoners estão tão emaranhados na sua moca que por pouco não notam a chegada de Margarida. Felizmente ainda conseguem esconder o material, pelo que esta não nota mais do que um “cheiro estranho”, que lhe faz lembrar os tempos em que não rapava os sovacos e ouvia todas as noites Leonard Cohen. Júlio confronta os filhos com o terrível facto de estes terem faltado um dia de aulas. Sofia e Rui não acham piada e vão-se andando. Isto permite a Júlio desempenhar um momento dramático – a sua entrada para os Óscares, ou ao menos aos Globos de Ouro – em que confessa que “sinto tanto amor…vivo preocupado com eles…tenho medo do futuro”. Avassalador. Realça que quer que eles tirem um curso, e que se ele o tivesse feito, não teria que se preocupar tanto com o bebé que está aí a chegar. MORANGOS FUN FACT OF THE DAY: tirar um curso é bué de útil.



Ao ar livre, Rui tenta resgatar um velhota dum carro que, segundo Rui mas não a realidade, “quase a ia atropelando”. Esta mostra o seu desagrado batendo-lhe com uma mala – um gag visual que já não via desde a última vez que li uma B.D. Disney.

Mas tudo acaba bem – influenciado por Graça, Júlio decide pedir desculpa aos filhos durante o jantar. Há um abraço de família - hugs, not thugs - e o bebé dá o seu primeiro pontapé. Inserir vómito aqui. Júlio também presenteia Rui com uma moldura da sua medalha.

No dia seguinte, Vitória chega ao colégio de muletas – supostamente caiu das escadas no seu prédio. Mas já cantavam Richard & Linda Thompson - did she jump or was she pushed? Becas diz a Sam que quer ser só amigos. Natasha diz a Diogo que quer ser só amigos. A masturbação frenética abunda por Cascais. É planeado um concerto dos 4 Taste no Bar Azul. Na associação de estudantes, Jota nota que Rodrigo recebeu um sinal furtivo dum estudante; seguindo-o, descobre que este está a vender um CD pirateado ao mesmo. Jota parte a capa do CD, afugentando o seu suposto fã e incitando Rodrigo a iniciar um debate sobre os méritos da pirataria que tem todo a sofisticação dos Metallica naquele chat quando era para acabar com o Napster, lembram-se? Bons tempos. De qualquer forma, Rui choraminga mais um bocadinho porque Adriana não considera uma cerimónia élfica uma forma legítima de casamento e acaba o episódio.

(Para quem quiser saber mais acerca deste episódio, ou sobre a pirataria em geral, aconselha-se o visionamento do filme disponível nesta página.)

terça-feira, 8 de maio de 2007

Terça Feira, 8/7/07

Ravina tenta distribuir as funções das empregadas de limpeza. Escandalizadas com a incompetência do processo de selecção, estas ameaçam recorrer aos sindicatos. Esta medida de marxismo descarado leva à retirada imediata do professor, que lambe as suas feridas no escritório de Vitória.

Rodrigo continua sem encontrar Gonçalo – cresce o desejo Charles Bronsonesco de vingança. Caminhando pela floresta, Rui e Adriana finalmente encontram uma estrada. Enquanto isto, no colégio abunda a especulação sobre a localização do jovem casal – “devem estar entretidos”, diz Natasha, numa declaração que, para os propósitos dos Morangos, é positivamente picante. Filipa, por sua vez, delira com o facto da sua roupa ter sido publicada numa revista – e já começam os comentários de que esta está a deixar que o sucesso suba à sua cabeça. Está portanto aberta a possibilidade para um futuro enredo à ”A Star Is Born”. E a tentação chega na forma de Tânia, que pretende explorar a fama de Filipa para os seus próprios propósitos.

André descobre os trajes de dançarino de Lourenço; nota que “essas roupas são um bocado…”, recorrendo a uma série de eufemismos para tentar distrair do facto que, entre quaisquer jovens normais em Portugal, essa frase acabaria com “gay”. Leonor explica a Rute que quer permanecer virgem até ao casamento. Rui e Adriana chegam à casa dos Salgado – Rui, por razões que escapam ao escrutínio de nós meros mortais, anuncia o seu casamento com Adriana. Esta não acha muita piada e vai-se lá embora. Na aula de Educação Visual, Rute e Leonor falam mas a minha atenção é desviada pelo grotesco professor, que tem qualquer coisa de caricatura de Robert Crumb. Também a próxima cena que envolve Leonor, desta vez a ser assegurada por André de que este não tem problema nenhum em esperar (até saber que com ela, valha-me deus, só depois do casamento!) é sabotada por um figurante – desta vez, um magnífico metrossexual com brinquinho. Para o almoço, Zé Maria e Marina servem exclusivamente tortilhas – o que leva a ressabiada da Adriana a queixar-se à directora. É mau, quando são eleitas delegado de turma pessoas com mania de que têm que defender direitos e tal. Também não acontece muito: lembro-me que, no 12º ano, fiquei numa turma em que quase ninguém se conhecia. Na aula para a eleição, houve um tipo que anunciou a alto tom e com sinceridade comovente “por favor não votem em mim!” Foi eleito por uma maioria esmagadora. Haha, bons tempos.

Depois das aulas, alguns dos moranguitos reúnem-se para assistir ao concurso de danças de salão. Como o programa claramente tem um contrato com alguma companhia, somos submetidos a algumas cenas de dança – resta a impressão geral de que os dançarinos não só se vestem mal como também são notoriamente feios. Lourenço prepara-se para o momento de ouro com bons materiais da L’Oreal (um ponto de product placement!) Enquanto isto, Sílvia e Jota apresentam uma dança que, mesmo se tivesse alguma elegância, nunca poderia sobreviver à estranha insistência da realização em captar todos os movimentos mais banais em “slow motion”. É assim, o trabalho de câmara caótico dos Morangos tanto tem momentos de inspiração como de fracasso. Zé Maria é convocado para a sala de professores, onde é castigado e humilhado pelas suas supostas falhas – mas este não revela a verdade, uma vez que, bem, fuck a snitch. Paulo tenta intervir a favor de Zé Maria, mas não consegue revelar a sua culpa no caso – o destino de fracassados heróis byronescos como ele. Mais tarde na cantina, Marina consola (ou seja, faz um broche a) Zé Maria pela sua discrição. Teresa passa por lá e fica toda deprimida, apesar da maioria dos espectadores a esta altura já terem esquecido que existia aquele sub-enredo.
Gonçalo aparece no Bar Azul de óculos e boina (um disfarce perfeito na sua simplicidade!) Tânia informa-o de que tem um esquema para buscar dinheiro da Filipa prometendo fazer-lhe um portfolio, ou algo, eu sei lá. De qualquer forma, Gonçalo já não está sob perigo, uma vez que o misterioso “chefe”, por entre miminhos dados ao seu gato e bombas lançadas contra países do terceiro mundo, informa Rodrigo que não foi ele o bufo. Rita e Lourenço dançam, com menos slow-motion e ligeiramente mais qualidade. Sílvia apercebe-se do seu erro, MAS SERÁ TARDE DEMAIS???

(Para quem quiser saber mais sobre este episódio dos Morangos, ou sobre o Wu Tang Clan em geral, aconselha-se a leitura desta entrevista com o RZA, publicada na revista satírica “The Onion”)

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Segunda Feira, 7/6/07

Porquê é que no genérico dos “Morangos” cantam que vão “massajar para a frente”?

Tânia tenta convencer o irmão de que o Gonçalo a tinha ido visitar para “buscar apontamentos”. Este tenta coordenar essa informação com o facto de ela e o Gonçalo andarem em anos diferentes.

Rui e Adriana visitam uma pequena vila, deliciando-se com a possibilidade de visitar o “jardim do castelo”. É claramente o episódio #378578 na série “tentativas de pedagogia mal ensaiadas nos Morangos”.

Marina consome uns Golden Grahams colocados de modo bem central – dois pontos de product placement para este episódio. Discute com Zé Maria o ar entristecido que Paulo tem tido, mercê da suposta fraca saúde da sua mãe. É claro que na verdade é tudo uma fronte para que Paulo possa continuar a praticar os seus actos de sadismo impune. O mais recente capítulo nesta saga? Paulo recorreu ao truque maquiavélico de “prometer de enviar um fax a pedir carne, cagar para isso e depois dizer que se esqueceu”. Uma mente verdadeiramente diabólica!

Depois dum curto plano dum imac (mais um ponto de product placement!), passamos à casa Salgueiro, onde Filipa aceita uma chamada duma revista de moda que pretende dar exposição à sua roupa. Eufórica, corre logo a contar a novidade a Rita e Filipa, que entretanto se materializaram do nada para a sua sala de estar. Mas o perfil severo de Júlio no pano de fundo da felicidade de Filipa já deixa anteceder um certo conflito – e deveras, o pai de família mostra-se contra a ideia. “Tu não percebes nada!” grita Filipa com o dote diplomático do costume.

No Bar Azul, André e Leonor andam aos beijos, enquanto Rute lê um livro sobre “como ser famoso”. Será esta obra mítica dos KLF? Rodrigo inicia Sofia na obscura arte de “gravar CDs”. Durante o seu passeio pela floresta, Rui nota que o seu pai sempre disse que “o ar livre faz bem aos pulmões”. Está assim concretizado o MORANGOS FUN FACT OF THE DAY:



No Bar Azul, Natasha sai transtornada com Duarte ao ver Sam falar com Becas; este também não chega a lado nenhum. Leonor, vindo mais ou menos do nada, recusa as afeições de André; Sílvia continua fula com Rita e Lourenço. É TÃO COMPLICADO O AMOR ;_;

Num claro tributo ao mais famoso episódio de sempre dos ”Sopranos”, Rui e Adriana perdem-se na floresta. De volta ao Bar Azul, André e Lourenço partilham suas mágoas – “cada miúda tem o seu próprio ritmo” diz Lourenço, em tom de Yoda. Sofia hesita, ciente de que, após a primeira vez que se usa o RecordNow, não há como voltar atrás; no entanto, acaba por alinhar. Pouco depois, é visitada por dois roadies dos Xutos & Pontapés que afirmam ser polícias à paisana. Na floresta, Rui sugere um pacto de suicídio. Becas bebe um Sumol – a pontuação de product placement deste episódio quebra todos os recordes! Zé Maria e Marina presenteiam Paulo com uma boa feijoada à Transmontana. Quando inquirido acerca do estado da mãe, este diz que “nem os médicos sabem o que ela tem”. Porquê é que ninguém neste programa sabe inventar mentiras decentes? Este pessoal nunca faltou às aulas?

A noite cai, e Rui e Adriana continuam perdidos pela floresta. Finalmente, avistam um bando de pessoas vestidas em trajes estranhos, com flores no cabelo (já dizia Scott McKenzie!) e uma flautista que não se cansa de tocar o “Greensleeves”.

WHAT THE FUCK!

“Que é isto?” pergunta Rui; “parece uma comunidade”, responde imbecilmente Adriana. Tentativa de aproximação à cultura wicca? Ideia pessoal dum guionista ex-hippie em crise de meia-idade? Cash-in do ”Lord Of The Rings”, meia década tarde demais? Oh “Morangos”, tu confundes tanto!

Rodrigo pergunta a Sofia se esta se sente cansada – não é para menos, depois de árduas horas a copiar discos e a ver vídeos engraçados no Youtube. Com o trabalho feito, Rodrigo dirige-se ao Bar Azul, onde tenta encontrar Gonçalo, mas sem êxito. Júlio comenta que “as boas raparigas não trabalham no turno da noite” (e todos sabemos o que isso significa, ho ho ho ho); ele e a esposa discutem se é viável ele continuar a trabalhar tanto.

Na floresta, a líder dos hippie-elfos diz “hello” a Rui e Adriana. Adriana, que como a maioria dos jovens portugueses não tem a mínima noção dos vocábulos mais elementares da língua inglesa, babeja por aí em português. A elfa, claramente pedrada, sorri e fornece bebidas ao casal. Assistem a uma cerimónia nocturna, onde as pessoas começam a sair aos pares; finalmente, Rui e Adriana são desafiados a participar. Equivalente português do ”Wicker Man”???

No dia seguinte, os dois jovens acordam sozinhos, com tatuagens de anéis nos dedos de aliança. Claramente o clã elfíco com que conviveram está um tanto corrompido pelo catolicismo. Zé Maria e Marina ponderam o que vão fazer sem comida para dar aos estudantes do colégio. Augusto Ravina refere a Vitória como sendo “um demónio, lobo com pele de cordeiro” - dude, she’s right there! Em contrapartida, Vitória encarrega Ravina de estabelecer o itinerário das auxiliares de limpeza.

(Para quem quiser saber mais sobre este episódio dos Morangos, ou sobre a problemática do parentesco em geral, aconselha-se o visionamento desta animação feita por Peter Bagge sobre Murray Wilson, o pai dos Beach Boys.)

quinta-feira, 3 de maio de 2007

Quinta-Feira, 3/6/07

Prossegue a grande confrontação dos 4 Taste com Rodrigo acerca de possíveis versões pirata (arr!) das suas gravações. Por entre os olhares de revolta e as acusações de parasitismo, não devem ter sido poucos os espectadores que correram para os seus computadores, num nobre movimento de desinstalação de Soulseeks e KaZaas. Até mesmo a banda sonora emplogou-se, dando mais palavras aos pobres vocalistas normalmente reduzidos ao cântico infindável de “we make noise”. Enquanto isto, na sala de professores, Ravina e Vitória encontram-se num bailado fatal, trocando acusações e insinuações. Ambos os conflitos acabam com promessas vagas de ir à polícia. Francamente, moranguitos:



Ao ar livre, Duarte parece ter decidido que o seu plano inicial de recorrer à prostituição para financiar a predilecção por ganza não irá resultar. Opta então por um caminho mais fácil – o roubo de telemóveis. Nos corredores do liceu, Gonçalo tenta-se engraçar com Sofia, mas é pwnado. Na associação de estudantes, Rui e Adriana discutem o relativo heroísmo do próprio, estabelecendo factores comuns e divergentes com outras personagens heróicas (Gandhi, Martin Luther King, Firestorm.) Adriana mostra-se céptica perante o valor do resgate de Alex feito por Rui: “não salvaste o papa!” Comentário pertinente, se considerarmos que Alex é um dos poucos seres humanos que ainda fazem cá menos falta do que o velho Ratzinger. No entanto, o diálogo é interrompido por uma chamada telefónica – os bombeiros, que informam Rui que este irá ser condecorado com uma medalha. Isto leva a uma sequência de sonho diurno em que (e pessoal, não estou a inventar nada disto!) Rui se imagina como super-herói, voando alegremente pelos céus. O debate sobre as inspirações para o fato do nosso herói nesta cena serão decerto motivo de debate aceso entre peritos nas próximas semanas – pessoalmente, acho bastante evidente que o desenho é baseado no fato clássico do Super-Homem, se bem que o esquema de cores tem mais de síntese entre o estilo Golden Age de alguns membros da JSA e a estética da Image Comics nos anos ’90. De qualquer forma, a fantasia é interrompida por Lourenço, que pergunta se pode utilizar a sala para ensaiar.

Sílvia convida a irmã para o convívio. Esta dá algumas desculpas esfarrapadas sobre unhas. Entristecida, Sílvia acaba por recorrer ao passatempo preferido dos jovens fixes de hoje em dia – faz uma pesquisa na Internet para um trabalho da escola. Noutro lugar, André pede desculpa a Leonor e explica que, entre ele e a Sofia, tudo está acabado. E depois há beijos - life is sweet on the rebound. Rui e Adriana vão ao Bar Azul, onde é discutido mais uma vez, e desta de forma mais acérrima, o heroísmo de Rui. Duarte intromete-se, fornecendo um picante “parece que a tua namorada te deu nota negativa!” Está aberta uma sessão de antagonismo vagamente homoerótico, com destaque para bom mots devastadores como “estúpido és tu!” e “grande coisa, uma medalha!” Aí pelo meio aparece a Natasha, preocupada por não encontrar a Becas em lado nenhum – mas ninguém faz muito caso, uma vez que ela está de hot-pants, o que é muito mais interessante.

Na Blackout, o auto-proclamado “realeast ninja alive” Rodrigo e o seu conselieri de colarinho branco ponderam a melhor maneira de resolver o dilema 4 Taste. Entre murmúrios e tons de Nino Rota, parece claro que alguém vai dormir com os peixinhos em Cascais esta noite. Nisto, entra Sofia, que anuncia histericamente que vendeu todo o merchandise que lhe foi atribuído. Mais tarde, é entregue na loja um objecto fálico – Rodrigo explica que é a montra especial de Filipa. Noutro lado, Leonor interrompe a marmelada com André – num breve respeito de auto-estima, questiona-se se André não está apenas a utilizá-la para se esquecer de Sofia. Felizmente, André (sempre atento aos perigos duma mulher que pensa) convence Leonor que não é nada disso e porra vamos lá voltar aos beijinhos.

Também os 4 Taste deliberam sobre a melhor forma de lidar com a situação da (arr!) pirataria. De início os ânimos estão bastante quentes, mas felizmente o consumo dum deliciosos Sumol consegue apaziguar os jovens rockeiros. Escusado será dizer que esta utilização soberba da bebida vale pelo menos três (3) pontos de product placement ao episódio. Jota acaba por se despedir, notando que tem que ir ensaiar uns passos de dança. A reacção? Chacota geral. Não há espaço para um sensível dançarino no duro universo Rock & Roll dos 4 Taste.

Becas encontra-se numa esplanada. Para passar o tempo, recorre ao uso de flashbacks, mas infelizmente só encontra uns deprimentes. Sam aproxima-se. Pergunta: serei eu um mau ser humano por achar infinitamente mais cómica a técnica “fast-forward” morangesca quando é aplicada a alguém numa cadeira de rodas? Enquanto isto, Sílvia entre na associação de estudantes e encontra a irmã gémea a ensaiar danças com Lourenço. Iludida, a pobre coitada vê traição onde apenas há rambóia, e nenhum dos dois outros intervenientes consegue explicar a situação. Sílvia foge e, depois de um pequeno freak-out digno dum jovem Pacino, Lourenço segue-a.

Filipa, convocada telefonicamente por Sofia, inspecciona com deleite o seu próprio cantinho da Blackout. Becas dá a Sam o toque mortal do “quero que sejamos amigos”. Sílvia explica a Jota que quer continuar a ensaiar para o concurso, e se ganharem vão eles os dois à Itália. Natasha refugia-se na casa de Duarte, que lhe oferece um ombro para chorar. E como todos os caminhos levam a Roma, acabam por fumar um.

No Bar Azul, Leonor e Rute discutem os charmes de André. Rute fala sobre a sua vontade de ser famosa, e faz alguns comentários classistas – é sempre nobre como os argumentistas dos Morangos colocam a nu os graves preconceitos que existem contra pessoas de locais mais pobres como Cascais. Enquanto isto, há mais umas birrinhas entre as gémeas, mas nada que avance muito a acção. Ah sim, uma diz que a outra gosta do Jota ou assim.

Duarte e Natasha, embalados pelo sabor da erva, preparam-se para trocar um beijo, quando entra a mãe pelo quarto dentro. Natasha foge, enquanto a mãe tenta lidar com o facto de, para além do consumo de marijuana, o filho também alinhar aparentemente em esquemas de mail order brides. Na casa dos Salgado, Sofia recebe um telefonema da LEI ordenando-lhe que se dirija imediatamente à Blackout. Escondendo-se, Sofia consegue ouvir que um carregamento irá ser levado ao “armazém 31, ao pé do rio”. Estão assim dispostas as peças para o que promete ser a versão portuguesa do ”The Departed”. Antecipemos o plano final, em que Rodrigo irá levar um tiro na cara de Ravina.

(Para quem quer saber mais sobre este episódio dos Morangos, ou sobre as regras de estacionamento em geral, aconselha-se o visionamento das palavras aqui disponíveis de Magneto.)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

Quarta Feira, 2/5/07


Um episódio excelente, hoje – montes de sofrimento humano e cusquice à volta do mesmo; exibiu exactamente o tipo de desprezo pelas emoções humanas que gostamos de ver nos “Morangos…”


Começamos a acção no apartamento de Paulo, Zé Maria e Marina. Estes três são provavelmente o meu microcosmo favorito dos Morangos. Resumindo: Marina (uma hippie detestável) e Zé Maria (que é gordo, logo cómico) odeiam Paulo (um cavalheiro de gosto e distinção); o sentimento é mutuo. Mas em vez de traçarem a conclusão óbvia (isso é, dissolver a partilha do apartamento), os três vivem numa espécie de estupor disfuncional co-dependente, baseando as suas míseras vidas à volta de “partidas” crescentemente patéticas e desesperadas. De certa forma, as desventuras deste trio ilustram a famosa frase de Jean Paul Sartre: “o inferno são os outros”. De momento, Paulo está a colher os frutos de ter largado “roofies” nos copos de vinho de Marina e Zé Maria; transporta a hippie fedorenta até ao seu quarto (no qual encontramos um quadro com um balão a exclamar entusiasticamente “vazia!!!”; também quero um), e deita-a na cama. O código de censura da TVI não nos permite assistir ao que decerto se seguirá, mas toda a gente sabe que um homem é apenas um homem e que quem cala consente.


Avancemos portanto até ao Bar Azul, onde André está a elogiar o visual de Leonor. Lucas nota a falta de atmosfera festiva no bar (deveras compreensível, uma vez que os pobres diabos que ali estão têm que passar a vida a ouvir as mesmas duas ou três canções que a banda sonora dos Morangos reservou para as cenas “de festa”), e tenta compensar com algum palavreado de DJ. Não foi bem “ei malta, vocês não estão a divertir-se, mas era fixe se estivessem, woooh!” mas andou lá perto.


Voltamos ao apartamento, onde Paulo está agora a levar Zé Maria para a caminha. Mais uma vez, os padrões de decência (ou seja, a censura ignóbil) da TVI não nos permite assistir à cena em que Paulo tira a virgindade anal a Zé Maria, mas por vezes estas coisas até são mais giras imaginadas do que vividas. De volta ao Bar Azul (raio de nome, já agora), André beija Leonor – e neste preciso momento, entra Napoleão um javali Sofia. Sofia confronta o (já, e agora ainda mais) ex-namorado, avançando que este é “um anormal” (uma crítica firm but fair, a meu ver.) Enquanto corre o confronto, a câmara vai rodando pelo resto dos personagens que, quais comentadores desportivos, fornecem os seus bitaites sobre a situação. Todos menos Lucas, isto é, que pode ser captado no background dos planos de Sofia e André, entretido a rodar discos. Claramente, é a única pessoa normal na sala.


Infelizmente, é precisamente nesse momento que a acção é interrompida por um empregado do serviço “Bonanza”, que veio para me fornecer o meu jantar. O programa aproveita esta deixa para passar para os anúncios.


Na Blackout, Rodrigo discursa sobre o mundo sórdido da pirataria: “In this country, you gotta make the Black Eyed Peas bootlegs first. That gets you the money. Then when you get the money, you get the power. Then when you get the power, then you get the woman." Também menciona que não quer que a Sofia continue envolvida nos esquemas ilegais da Blackout. Enquanto isso, na merdosa casa pequeno-burguesa dos Salgado, Graça tricota um fato para o futuro bebé. Júlio afirma que vai ser um menino, o que basicamente assegura que se vai tratar duma rapariga. Sabiam que às vezes as séries de ficção gostam de brincar com alguns dos preconceitos mais ridículos dos pais de família antiquados? MORANGOS FUN FACT OF THE DAY!


No Bar Azul, Leonor vai ter com André, mas ele basicamente diz-lhe para ir à merda. Não, ok, diz que prefere falar amanhã, mas pronto, teria mais graça da forma como eu contei. No dia seguinte, Paulo concretiza mais uma etapa nos seus maléficos planos de vingança: prepara um pequeno almoço para Marina. Será que ninguém pode parar este perigoso psicopata? Quando chega à cama de Marina, e lhe fala da alegre violação perpetuada na noite anterior, esta fica deveras transtornada e recorre inclusive à violência física, dando um murro no olho de Paulo. As mulheres às vezes são assim, não sabem o que querem. Na casa Salgado, Júlio volta do emprego nocturno de taxista – apesar de cansado, apenas fala bem do serviço que prestou, colocando-se assim na pose estóica dum John Wayne ‘tuga. Ao mesmo tempo, Sofia chora ao som elegante duma balada dos 4 Taste. Ao pequeno-almoço, Rui mostra grande alvoroço pela cisão de relações entre André e Sofia, prometendo “some Stephen Seagall-type shit” da próxima vez que vir André, e notando “comigo as minhas irmãs vão sempre bem tratadas”. Logo de seguida, vira-se para Filipa e ordena “ou despachas-te ou vais a pé”. È mais uma vez o toque subtil com que os “Morangos” ironizam sobre as atitudes masculinas que torna este programa uma obra-prima da televisão pós-scientologista/feminista. Noutra casa, Diogo pede vinte euros emprestados à mãe; quando esta não aceita fornece-los, Diogo afirma que os vai arranjar. “Como?” pergunta esta; a resposta óbvia (prostituição) não é mencionada.


No seu apartamento, Zé Maria confronta Paulo, acusando-o de ser “tarado” (não somos todos, he he he?) e “pornógrafo” (o que já é mais difícil de explicar.) A discussão acaba numa batalha de almofadas, captada com vários planos súbitos ao bom estilo de Jean Luc Godard. André passeia na praia: tristemente, passam vários flashbacks dos momentos que passou com Sofia e Leonor. Mas, para sua grande surpresa e felicidade, estes flashbacks acabam invariavelmente com a aparição do Fonzie e a distribuição de gelados por todos os intervenientes. Reconfortado, André abandona a praia.


No bar da escola, Becas (vestida de vermelho) encontra Sam (vestido de vermelho); no fundo, temos uma parede vermelha, e a Marina, vestida de encarnado. O Almodovar ainda tem muito a aprender com esta série! Sam revela que acabou o namoro com Natasha, e que está apaixonado por outra pessoa – ela! Aparentemente aquelas regras sobre dar um período de espera entre namoros não combinam muito com os moranguitos. Becas foge, levando a uma curta perseguição de carreira de rodas ao bom estilo ”Benny Hill”, mas eis que se defrontam com Natasha e Diogo! Natasha, chocada com a revelação de que o homem que ama quer a sua melhor amiga, perde o controlo e revela que Becas costumava sair às escondidas com Vítor, o empregado do Bar Azul. Todos os presentes na sala tentam fazer cara séria, mas o facto de se estar a falar sobre uma tipa chamada “Becas” coloca alguns entraves a isso. De qualquer forma, Becas torna a correr, e segue-se mais divertimento de corridas com cadeiras. O pessoal no bar discute a situação, mostrando assim mais uma vez que, nos Navegantes, o amor é um desporto de espectadores.


Mick “Manel” Hucknall fala com Angelina, notando mais uma vez que os vencedores não fazem drogas e que ela devia ficar na escola. Angelina acha estúpido, há briga e tal. Rodrigo aproveita a situação para realçar que cada vez que quiser erva, pode falar com ele.


Começam as aulas. Em Português, a professora pede aos alunos que passem o sumário; é de notar que no quadro diz algo sobre um poema do Fernando Pessoa. Na altura em que eu andava a estudar Pessoa já tínhamos deixado há muito a prática dos sumários, mas suponho que em Cascais a vida é mais lenta. Paulo chega ao colégio com óculos de Sol, causando uma discussão com Zé Maria, na qual ambos parecem ignorar completamente o facto que Zé Maria sabe o porquê dos óculos, e Paulo sabe que ele sabe. São caixas dentro de caixas! Mais tarde Paulo também provoca o deleite dos docentes, que aparentemente já esqueceram que o colégio está à beira da falência e que podem perder os seus empregos num ápice.


Becas alinha no tratamento do costume para pessoas que estão mal (andar na praia); quase chega a ter flashbacks, mas aparece um cão e isso arruína tudo. Na escola, Rute aconselha Leonor a ir a um spa. Não menciona o nome, mas visto que esse tipo de negócio ainda é uma coisa bastante niche por cá, vou ser generoso e conceder um (1) ponto de product placement ao episódio. Enquanto isso, uma groupie aproxima-se de dois membros dos 4 Taste, pedindo que estes assinem o seu CD. Chocados, os jovens artistas de variedades notam que o CD é pirateado!!!


Na associação de estudantes, Lucas joga aos matraquilhos com Rodrigo, mostrando mais uma vez uma total falta de padrões morais. Os dois nacional-cancionetistas interrompem, exigindo satisfações a Rodrigo.

Na sala dos professores, Vitória discute com Ravina, que solta a magnífica tautologia “já não estou a achar graça ás tuas piadas que não têm graça” e acusando esta de ser “terrorista”. SERÁ QUE OS TERRORISTAS JÁ GANHARAM? É o que iremos saber no próximo episódio.



(Para quem quiser saber mais sobre este episódio dos “Morangos”, ou sobre a tradição do conto fantástico na cultura ocidental em geral, aconselha-se a leitura deste ensaio de H.P. Lovecraft)

terça-feira, 1 de maio de 2007

Terça-Feira, 1/5/07

Devido a razões de força maior, não nos foi possível resumir em detalhe o episódio de hoje. Em vez disso, fiquem com esta representação gráfica do que aconteceu hoje no "Morangos Com Açúcar":

segunda-feira, 30 de abril de 2007

Segunda Feira - 30/4/2007


Primeiro, como sempre, o genérico. O tema actual dos “Morangos Com Açúcar” segue na tradição de programas como “Golden Girls”, “Cheers – Aquele Bar” e, mais recentemente, “Dawson’s Creek”, na medida em que esconde um mar de depressão atrás duma letra supostamente positiva. Os genéricos dos programas referidos são baladas, enquanto que o “Morangos Com Açúcar” utiliza um registo mais uptempo; mas partilham uma certa insistência em descrever de forma tão agressiva as virtudes da vida activa que acabam por reforçar no espectador os sentimentos de depressão que tem por não fazer parte deste mundo fictício. Assim, “thank you for being a friend” e “sometimes you wanna go/where everybody knows your name” são linhas escritas especificamente para fazer com que uma pessoa julgue não ter amigos, ou não ter amigos suficientes; enquanto o “I don’t wanna wait/for my life to be over” do “Dawson’s Creek” e o “viver/toda a energia/viver/todo o dia-a-dia” dos “Morangos” fazem chacota dos pobres bastardos que estão plantados à frente da televisão em vez de se lançarem em existências românticas tão atribuladas como as das personagens das séries. Como muitos dos melhores temas televisivos de sempre, a canção do “Morangos Com Açúcar” é um convite ao suicídio.


O episódio começa com uma situação lírica digna dos melhores livros de Hemingway: Hugo e Luz, ambos severamente ressacados, discutem numa colina a perda do selo que Luz tinha dado a Hugo como presente de aniversário do seu namoro. Hugo por sua vez presenteia a jovem amada com chocolate negro, que esta aceita entusiasticamente, notando que o chocolate negro “faz bem ao cérebro, sabias?” Logo no início do episódio, temos assim o MORANGOS FUN FACT OF THE DAY.


Passamos ao mítico Bar Azul, no qual André anda a alimentar o seu recente capricho pela atrasada mental da Leonor, enquanto Sofia distribui CDs piratas pelas gémeas. André acaba por confrontar Sofia com a sua pérfida actividade criminal, ao que ela responde que devia confiar nela e que já não é seu namorado. Mas fica no ar que ela não lhe está a dizer tudo – mal sabe André que a pirataria é o único recurso que Sofia tem para poder começar a viver uma nova vida…como homem!


Enquanto isto, ao ar livre Natasha e Duarte curtem um charro – e a erva deve ser forte, uma vez que os leva a comparar nuvens a seres e objectos da terra (o que é completamente absurdo, uma vez que nuvens são conjuntos de partículas de água condensada em suspensão na atmosfera, e portanto nada têm a haver com objectos ou animais!) Num ataque de misantropia, a doce Natasha até exprime o desejo que o seu namorado Sam “se lixe”. A seguir, damos um pequeno salto ao apartamento da nossa família disfuncional favorita (Marina, Zé Maria e Paulo), onde Marina está a exercer a sua vingança contra o nefasto Paulo com um plano deveras maquiavélico: está a bater-lhe duramente nas costas e a dizer que é uma massagem! Ah, a inteligência venenosa do sexo feminino!


Na casa dos Salgado, a mãe apanha Filipa a costurar em vez de estudar. Filipa nota que gosta de costurar e tal, a mãe entende que está bem e tal, e levanta o castigo que impedia Filipa de costurar e tal. Voltando ao Bar Azul, André diz a Leonor que devia esquecer a Sofia e convida a Leonor ao cinema. Esta reage entusiasticamente. Moral: se te comportares de modo patético o suficiente, há de haver sempre uma bimbo qualquer que alinha em dar-te um pity fuck.


A segunda parte abre com um plano próximo dum jogo de telemóvel, dando assim um (1) ponto de product placement ao episódio de hoje. Em secreto, uma das gémeas ensaia passos de dança latina com Lourenço; noutro local, a outra gémea vibra com Jota ao som dos loucos êxitos da era Disco-Sound. É revelado que estes apenas estão a ensaiar para competir num concurso de dança de forma a que a gémea possa ir numa viagem com Lourenço, mas não será que se estão a divertir um pouco demais se é apenas este o propósito? SERÁ QUE ISTO VAI LEVAR A UM POSSÍVEL SUB-ENREDO FUTURO? :-0


Rute e Leonor discutem André como possível interesse romântico de Leonor. Sofia passa por lá e tenta dar uma de antipática, mas não tem muito jeito. Mais tarde, na loja, tenta livrar-se da sua missão de infiltrada no sórdido mundo da pirataria (arrr!) e tráfico de marijuana, mas os polícias pedem-lhe para esperar mais um bocadinho (não se ouve a voz do outro lado da linha, pelo que não posso comprovar se estava a mastigar um donut.) Enquanto isto, Tânia chega a casa com um novo CD – a tia pergunta-lhe como arranjou se está com falta de dinheiro, e esta responde que “estava em promoção”, mas não menciona onde comprou, nem que disco é, pelo que me vejo forçado a tirar um (1) ponto de product placement ao episódio. Um pouco depois, Angelina descobre que Tânia possui também maquilhagem nova, “oferecida”; deduz que esta tem novo namorado.


André anuncia a Duarte a sua mãe que vai ao cinema – Duarte inquire se este tem nova namorada (perturbante, o interesse que as pessoas nesta série tomam pela vida romântica dos irmãos.) André põe-se a andar e Duarte e a sua mãe têm uma pequena discussão, que acaba em Evanescence e na promessa de Duarte de “fugir de casa” se o tentarem meter num colégio – tudo isto tem uma atmosfera calorosa de livro infantil dos anos ’50. Ao mesmo tempo, decorre o jantar na casa dos Salgado – Sofia chega e nem tem fome. Foge para o seu quarto, e a dor é tanta que só pode ser exprimida através do mais desolador recurso estilístico televisivo – o flashback. Acaba por decidir falar com André, através duns auscultadores estranhos que hão de estar ligados à Interweb ou algo (putos de hoje) mas só está lá o Duarte e, sejamos honestos, ninguém quer falar com o Duarte. Pelo telefone nem pode oferecer erva.


No dia seguinte, Rute e Leonor discutem o encontro. Leonor afirma “não se lembrar” de que filme foram ver, o que obrigar-me-ia a descontar mais um (1) ponto de product placement, mas felizmente a mala ”Hello Kitty” da Rute salva a ocasião (e já agora, desde quando é que as betas andam com Hello Kitty? Para mim parece domínio exclusivo de góticas e japanofílicas…) Numa destas tristes ironias que a vida tem, Lourenço e André discutem a falha da relação com a Sofia ao mesmo tempo que, noutra sala, Sofia discute a mesma situação com as gémeas. Ao almoço, Filipa anuncia que já pode voltar a fazer costura e tal. Natasha nota que Filipa “lhe podia fazer um top” – e apenas quem ignora totalmente o calão sexual dos emigrantes de leste em Portugal poderá pensar que esta está a falar em vestuário.


Na sala dos professores, reina a consternação sobre a manchete do ”Factual” (excelente nome para um jornal, já agora – tem sabor a “methinks the lady doth complain too much”) - “Crianças Embriagadas No Colégio Da Barca”. Vitória tenta desdramatizar a situação, notando que as pessoas sabem que os jornalistas “exageram sempre”. As professoras respondem que o ”Factual” é um jornal de nível. A julgar pela linha editorial que coloca putos que beberam sumo com álcool na primeira página, confirma-se. Enquanto isto, Marina e Zé Maria ponderam o seu destino na cantina – tal como Clint Eastwood, sabemos terem sido acusados dum crime que não cometeram. Hugo e Alex discutem as suas primeiras experiências com o alcoolismo – o consenso parece ser que dá uma dor-de-cabeça “do caraças”. Mick “Manel” Hucknall e Angelina discutem a sua relação – nas sombras, um sórdido empregado da Blackout sorri demoniacamente.


Prosseguem as aulas. Em matemática, Filipa mostra não ter feito os trabalhos-de-casa (facto comentado em sussurros pelas suas supostas amigas – agradável toque de realismo social.) Em Educação Visual, Rute e Leonor continuam a falar de André, visto que claramente não têm conversa. Mas a maior actividade decorre na aula de Português – Julieta elogia o desempenho dos seus alunos na peça de teatro, incitando aplausos por parte de alguns personagens e um sorriso confuso duma pobre figurante que teve o azar de ser captada pela câmara. Segue-se um pequeno diálogo sobre como melhor investir os lucros da peça, em que a posição da professora (“actividades desportivas”) é defrontada com a claramente superior ideia dos alunos (gelados, bolos, e “uma nova playstation para a associação dos estudantes” – isso quer dizer que já tinham uma?) Num gesto pouco abrilesco, a professora faz vencer a sua perspectiva pela pura força do mais poderoso.


Na redacção do jornal de escola, Becas anuncia que quer fazer uma reportagem sobre a poluição na praia, sendo que contactos, informações e fotografias já foram disponibilizadas pelo ”Factual” (a solidariedade jornalística em Cascais é outra coisa!) Para grande desagrado do Sam e da Becas, as fotografias mostram Natasha e Duarte deitados na praia, provavelmente a mal-interpretar nuvens. Filipa entrega peças de vestuário à Blackout. Lucas e Lourenço metem-se um pouco com André por causa da Leonor, mas também não têm jeito e é a cena desconfortável do costume. André acaba por ir praticar bodyboard com Leonor.


Voltamos a um alegre cenário de uso de marijuana. Mick “Manel” Hucknall inicialmente recusa-se a participar, mas a provocação de Duarte, Natasha e Angelina acaba por o convencer, num cenário totalmente oposto ao dia-a-dia dos consumidores de erva na vida real (aquela merda é cara e difícil de arranjar, nada pior do que ter mais um amigo que quer cravar.) O consumo leva a regozijo geral, até que Duarte (num gesto mais próprio de quem tomou ecstasy, o que alias condiz com o seu vestuário) salta para cima do carro dum brutamontes qualquer. Este sai do veículo e faz cara de mau – só no próximo episódio saberemos no que isto vai dar, mas eu aposto em penetração anal.


(Quem quiser saber mais sobre este episódio dos “Morangos”, ou sobre a possibilidade duma política externa comum da União Europeia em geral, é aconselhado a ler as palavras de Richard Rorty na revista “Dissent”.)